1 Timóteo 3:2—““É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, temperante...” (ERA); vigilante (ERC); prudente (NTLH)
Considerações:
“Temperante” é o primeiro de uma série de três atributos da personalidade. A palavra grega [traduzida como ‘temperante”] pode significar: sóbrio, não-intoxicado, equilibrado, auto-controlado, moderado, frugal, abstêmio, prudente, razoável. A versão do Rei Tiago traduz a palavra grega como “vigilante”. Existem boas razões para acreditar que, com esta palavra, Paulo não está falando sobre a moderação de um presbítero em usar bebida embriagante, mas particularmente de como um presbítero pensa e procede em geral. Portanto , tendo em vista a importância desse ofício, Paulo advertiu: “A ninguém imponhais precipitadamente as mãos” (I Tim. 5:22).
c) Responsabilidade e autoridade do Presbítero (ancião). O ancião é antes de qualquer coisa, e principalmente, um líder espiritual. É escolhido “para pastorear a igreja de Deus” (Atos 20:28). Sua responsabilidade inclui a sustentação dos membros fracos (Atos 20:35), a admoestação dos desobedientes (I Tess. 5:12) e estar alerta contra quaisquer ensinamentos que causariam divisão (Atos 20:29-31). Anciãos devem ser exemplos de vida cristã (Heb. 13:7; I S. Ped. 5:3) e de liberalidade (Atos 20:35).
d) A atitude em relação aos Presbíteros . Em grande medida, a liderança eclesiástica efetiva depende da lealdade do corpo de membros. Paulo estimulou os crentes a respeitarem os seus líderes e a tê-los “como amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam” (I Tess. 5:17).
As Escrituras deixam bem claro o dever de respeitar a liderança da Igreja: “Obedecei aos vossos guias, e sede submissos para com eles, pois velam por vossas almas, como quem deve prestar contas” (Heb. 13:17; cf. I Ped. 5:5). Quando os membros se comportam de modo a dificultar o exercício das tarefas atribuídas por Deus à liderança, uns e outros experimentarão pesar e perderão a alegria da prosperidade de Deus. Os crentes são estimulados a observar o estilo de vida cristã dos líderes. “Considerai o fruto do seu estilo de vida e imitai a sua fé” (Heb. 13:17. New International Version). Eles não devem prestar a atenção a mexericos. “Não aceiteis denúncias contra presbíteros, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas” (I Tim. 5:19).
1. Primeiro, no próximo versículo (I Timóteo 3:3), Paulo expõe especificamente que um presbítero não pode ser dado ao vinho. Esta mesma qualificação a respeito do uso do vinho está também em Tito 1:7. Pelo fato de Paulo ter abordado, em particular, o consumo do vinho, pareceria que “temperante” não está focando o mesmo ponto.
2. Segundo, “temperante” se encontra no começo de uma lista de qualidades que possuem relação com o caráter geral de um presbítero quanto à conduta, às idéias e às ações. Temperante é seguido por sóbrio (mente sóbria). Os tradutores da Nova Versão do Rei Tiago usaram estas duas palavras em inglês de maneira alternada no Novo Testamento. Por exemplo, em Tito 2:2 lemos: "os velhos, que sejam sóbrios (temperantes), respeitáveis, prudentes, sãos na fé, na caridade e na paciência”. A palavra traduzida como “sóbrio” é aquela sobre a qual estamos discutindo (temperante). A palavra traduzida como “sóbrio” (na versão inglesa) em Tito 2:2 corresponde à mesma como “temperante” em I Timóteo 3:2. Observe que a tradução destas palavras se alternou em Tito e em I Timóteo 3:2 (apenas no inglês – em português, os dois textos registram “temperante”). Se as palavras “temperante” e “sóbrio” representassem duas idéias completamente distintas, claramente diferenciadas uma da outra, então seria equivocado alternar a tradução. Estas duas palavras (gregas) possuem significado próximo e representam quase a mesma idéia no Novo Testamento.
Em Tito 2:2 e em Tito 2:6-7, Paulo utiliza a palavra “temperante” e a palavra “criterioso” (a mesma palavra para “sóbrio”) no contexto do caráter geral de um homem. O contexto destes versículos mostra que, por meio destas palavras, Paulo não está se referindo à moderação no consumo de vinho.
· “Sóbrio em todas as coisas...” (2 Timóteo 4:5). A qualidade que estamos discutindo tem a ver com a vigilância e o estado de alerta para evitar que belas estórias e fábulas tomem o lugar da verdade do Evangelho de Cristo.
Paulo emprega o mesmo verbo em I Tessalonicenses 5:6, “Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e da caridade e tendo por capacete a esperança da salvação”. A virtude sobre a qual estamos debatendo está relacionada ao alerta, à perseverança na fé, ao amor, à esperança, ao dedicar atenção às coisas de Deus, a fim de que possamos persistir até o Dia do Senhor (compare Hebreus 2:1; 6:11,12). É por isto que a Nova Versão do Rei Tiago adota a tradução “vigilante” ao invés de “temperante” em I Timóteo 3:2.
O apóstolo Pedro adota este mesmo verbo diversas vezes em sua primeira carta. No capítulo 1:13-14, ele escreve: “Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo, como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância.” A mensagem neste versículo é a de que precisamos ser atentos, determinados e sensatos. Temos de dar atenção incansável à verdade de Deus e, por conseguinte, obedecer com determinação. Em 4:7, lemos: “E já está próximo o fim de todas as coisas; portanto, sede sóbrios e vigiai em oração.” A ordem de ser vigilante é paralela ao mandamento de ser determinado. O fim de todas as coisas está por vir. Esteja alerta! Fique bem esperto! Um homem alcoólatra e um outro, passivo, dão pouca importância ao que está acontecendo. Seus sentimentos e capacidade não são astutos nem intensos. É o oposto do que vem a ser vigilante, equilibrado ou sóbrio. Ao alertar os santos de que o diabo anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar, Pedro diz: “Sede sóbrios, vigiai...” (I Pedro 5:8).
Conclusões:
1. Agostinho, disse: Ouço a voz de meu Deus que ordena: "Não se façam pesados vossos corações com a intemperança e embriaguez". A embriaguez está longe de mim; que tua misericórdia não a deixe se aproximar. Mas a intemperança, ao contrário, chega às vezes a arrastar teu servo. Tua misericórdia há de afastá-la de mim, porque ninguém pode ser temperante senão por tua graça.
2. Calvino comenta: O presbítero deve ter uma temperança espiritual que o permita avaliar todas as coisas sem se deixar influenciar simplesmente pela beleza ou agradabilidade do que foi dito. Não deve estar pronto a abraçar novidades pelo simples fato de ser aparentemente nova, antes deve ter cautela para avaliar todas as coisas. Não deve se intoxicar praticando uma glutonaria espiritual sem saber digerir o que está sendo-lhe transmitido.
3. Deste modo, deve estar desperto, vigilante, para não ser iludido com todo e qualquer ensinamento, tendo o seu entendimento “cingido” com a Palavra e com a couraça da fé, permanecendo vigilante contra as artimanhas de satanás que tenha induzir a igreja ao erro.
4. O sentido da palavra original é melhor expresso pela tradução “vigilante”, encontrada na versão do Rei Tiago. Em algumas traduções temos em 1Tm 3.2. “Sóbrio”, “de mente limpa”, “equilibrado”. A palavra indicava na sua origem alguém que se abstinha do álcool ou que era temperante no uso do vinho; no entanto, aqui parece indicar um sentido mais genérico. (1Tm 3.2,11; Tt 2.2). Sobriedade é uma palavra muito destacada e valorizada nas Escrituras. Ao todo ela aparece, com suas variantes, 114 vezes.
3. Um presbítero tem de estar prevenido e em estado de alerta, do mesmo modo que um pastor precisa estar sempre atento aos lobos e a qualquer outra coisa que possa pôr o seu rebanho em perigo. Um presbítero precisa ter uma mente astuta e incisiva para perceber os tempos, a verdade ao erro, as necessidades das ovelhas, etc. Ele tem de cuidar da própria vida e das emoções de modo que não brote nenhuma raiz de amargura, de descrença, de exemplos pecaminosos de vida, de discurso ou de pensamento, de omissão das coisas de Deus ou de desobediência aos mandamentos da Bíblia. Seus sentidos não devem ser entorpecidos, mas exercitados pelo uso “para discernir tanto o bem como o mal.” (Hebreus 5:14). Isso é requerido das esposas dos diáconos (I Timóteo 3:11), dos idosos (Tito 2:2) e de todo o povo de Deus (I Pedro 5:8).
Este traço do caráter é fundamental no ofício do presbítero, razão pela qual Paulo recriminou os presbíteros de Éfeso: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo constituiu bispos... Porque eu sei isto: que, depois, da minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar, com lágrimas, a cada um de vós.” (Atos 20:28-31).
· Um presbítero que não é vigilante de sua própria vida, tanto a privada como a pública, não terá a capacidade de ser zeloso e de ter cuidado com o povo de Deus. Seusentidos e seu discernimento são entorpecidos. Ele será como um insone ou um embriagado. Em primeiro lugar, um presbítero tem de ser vigilante de forma constante na própria vida para que não caia em pecado. Ele tem de manter a lei de Deus sempre diante de seus olhos. E mais: um presbítero precisa estar atento ao cuidar de seu rebanho.
· Como aplicação final, ressaltamos que todas as qualificações, exceto três podem ser consideradas características de todos os cristãos. As três exceções são “esposo de uma só mulher”, “ter filhos crentes” e “não seja neófito”. As passagens bíblicas seguintes aplicam-se a todos os cristãos sem exceções: Filipenses 2:15; 2 Pedro 1:6; Romanos 12:3, 11, 13; 1 Pedro 3:15; Romanos 14:21; Tiago 1:19,20; Hebreus 13:5; Tito 3:2; Efésios 5:22, 23; Tito 2:7, 8; Filipenses 2:3, 4; Efésios 4:26; 1 João 2:15, 16; Colossenses 1:22; 1 Pedro 1:6; 1 Timóteo 1:3; Tito 2:2, 5.
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